terça-feira, 21 de setembro de 2010

Muito Além do Turismo Contemplativo


Quando pensamos em ecoturismo, ou turismo ecológico, imediatamente nos lembramos de caminhadas, trilhas, cavalgadas, arborismo e inúmeras outras modalidades de esportes radicais. No entanto, a definição essencial desta atividade é muito mais ampla. Segundo a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), o ecoturismo é aquele “turismo desenvolvido em localidades com potencial ecológico, de forma conservacionista, procurando conciliar a exploração turística com o meio ambiente, harmonizando as ações com a natureza, bem como oferecer aos turistas um contato íntimo com os recursos naturais e culturais da região, buscando a formação de uma consciência ecológica”.
De acordo com Juliano Macedo, especialista em direito ambiental, pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e professor do curso de Gestão em Ecoturismo do Instituto Aqualung, o termo “ecoturismo” vem sendo cunhado desde a década de 50. No entanto, esta modalidade turística tem suas origens há muitos séculos. Foram encontrados relatos de monges da Idade Média sobre deslocamentos motivados por atrativos naturais.
Para Macedo, praticar o turismo ecológico é provocar e satisfazer o desejo de estar em contato com a natureza, explorar o potencial turístico visando à conservação e ao desenvolvimento, e evitar o impacto negativo sobre a ecologia, a cultura e a estética. Logo, o desenvolvimento sustentável de atividades ecoturísticas passa pelo prisma do desenvolvimento social e esta é a sua principal diferença em relação ao turismo tradicional.
Cada vez mais, aumenta o interesse pelo turismo “verde”. Segundo a Sociedade Internacional do Ecoturismo, atualmente, o crescimento médio da atividade é de 10% a 15% por ano. Ainda é estimado que 5% das pessoas que viajam pelo mundo inteiro pratiquem o ecoturismo, ou seja, cerca de 35 milhões de turistas.
Terezinha de Camargo-Viana, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UNB), acredita que a sociedade moderna vive preocupada com o tempo, tentando sempre realizar o maior número de atividades possível, o que torna a rotina estressante. Para ela, um dos motivos que leva as pessoas a passarem as férias em lugares mais próximos à natureza é a necessidade de diminuir o ritmo de vida. Outra possibilidade é a preocupação com o meio ambiente e uma maior conscientização ecológica.
O Brasil, com sua rica biodiversidade, é um destino em potencial. Segundo a Embratur, cerca de 3,9% do território nacional está sob a proteção federal, dividido em 35 Parques Nacionais, 23 Reservas Biológicas, 21 Estações Ecológicas, 16 Áreas de Proteção Ambiental (APAs), 9 Reservas Extrativistas e 39 Florestas Nacionais.
Para Juliano Macedo, houve no Brasil muitos avanços na legislação, na infra-estrutura hoteleira, na comercialização e na profissionalização. No entanto, a educação ambiental ainda é pouco difundida, os órgãos responsáveis pela fiscalização e aplicação das normas existentes são insuficientes, as políticas públicas e privadas atentam em primeiro lugar para resultados financeiros e faltam investimentos nos diversos setores para tornar as áreas protegidas aptas para atender a grande demanda.
Por ser uma indústria, o turismo depende da apropriação e da exploração dos recursos naturais, assim como depende das sociedades locais. Estas são características que, segundo Macedo, explicam os abundantes exemplos de degradação ambiental e sociocultural decorrentes do turismo. Além disso, as áreas naturais, em particular aquelas protegidas legalmente, constituem grandes atrações, tanto para os habitantes dos países aos quais pertencem como para os turistas de todo o mundo. Por esse motivo, as organizações para a conservação, ao mesmo tempo em que reconhecem a enorme relevância do turismo, estão conscientes dos inúmeros danos que uma má administração pode provocar no patrimônio natural e cultural do planeta.
“Aí está o problema, já que governos e investidores, com olhares primordiais no desenvolvimento econômico por si só e no retorno sobre o capital investido no menor prazo, desprezam a abordagem multidisciplinar e um planejamento cuidadoso, que garanta um funcionamento estável. A maioria dos parques nacionais não tem programas eficientes e eficazes de gestão. Como exemplo, basta verificar que o Parque Nacional do Araguaia, localizado na Ilha do Bananal, possui 562.312 hectares e é administrado por apenas três fiscais do IBAMA, o órgão que tem a finalidade de executar a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente” afirma ele.
            Todas as atividades geram impactos ambientais, por menores que sejam. Em alguns empreendimentos, esses impactos são reduzidos drasticamente, além de serem adotadas medidas de conscientização e integração da população, mesmo com poucos recursos disponíveis. Exemplos dessa linha de ação são observados em diversos projetos, como as empresas turísticas Boca da Onça Ecotur e Tatu na Trilha Ecoturismo e o programa internacional de voluntários Ecovolunteers Program.

Na Boca da Onça

A 55 quilômetros da cidade de Bonito, Mato Grosso do Sul, fica o município de Bodoquena, que abriga a Fazenda Boca da Onça. Quando esta foi construída, ainda não se falava em turismo ecológico em Bonito, mas na década de 90 o turismo tornou-se uma das atividades mais importantes na região.
Funcionando em conformidade com a SEMA (Secretaria de Meio Ambiente) e com o IMAP (Instituto de Meio Ambiente do Pantanal), a empresa Boca da Onça Ecotur oferece roteiros ecológicos na região.
O grande diferencial está na real preocupação com o meio ambiente e com as comunidades da região. A Boca da Onça faz coleta seletiva de lixo e reciclagem dos materiais orgânicos, possui estação de tratamento de água de acordo com as normas do Ministério da Saúde, uma horta que sustenta quase todo o consumo do restaurante da fazenda, uma brigada contra fogo e funcionários treinados pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para combater incêndios florestais.
            Segundo o gerente de ecoturismo da empresa, Elias Francisco, há planos de aumentar as matas ciliares e proteger as nascentes dos rios que cortam a fazenda, de criar uma Reserva Particular do
 Patrimônio Ambiental, e de aumentar a educação ecológica nas comunidades da região. A empresa já ofereceu aos moradores cursos de alfabetização, de Ensino Fundamental e Médio, de línguas estrangeiras, de capacitação profissional e de monitoria ambiental. O Governo do Mato Grosso do Sul declarou a Boca da Onça como a primeira empresa turística a possuir um curso de Ensino Fundamental com especialização em turismo rural.
            Francisco afirma que ainda há nichos na região que não são explorados, talvez por não terem sido descobertos pelo grande público ou pela dificuldade burocrática e os altos custos a serem empregados. No entanto, para ele Bonito é um exemplo de infra-estrutura turística: “Está dentro de um padrão de qualidade, segurança e conformidade com os órgãos competentes. Há um trabalho de integração com a comunidade e comprometimento com o meio ambiente”.



Tem Tatu na Trilha

Na pequena vila baiana de Caeté-Açú, no Parque Nacional da Chapada Diamantina, fica a agência Tatu na Trilha Ecoturismo. Há um sério comprometimento com o meio ambiente e uma integração com a comunidade da região. São organizadas caminhadas com alunos das escolas locais e com os turistas, a fim de sensibilizá-los sobre a fragilidade das bacias hidrográficas e do ecossistema como um todo. Além disso, foram feitas inúmeras ações locais para promover o turismo ecológico e aumentar a consciência dos moradores sobre os aspectos do lixo, das queimadas, do uso de água.
O dono da Tatu na Trilha é o francês Claude Samuel, engenheiro atuante na área de geoprocessamento, que elabora mapas das trilhas da região. Ele pratica caminhadas desde jovem, já tendo andado pela Argentina, pela Venezuela e pela Europa. Em 1990 se estabeleceu no Brasil e começou a trabalhar como guia independente. Há três anos abriu sua agência na Chapada.
Segundo Samuel, o turismo na região da Chapada Diamantina se intensificou há cerca de 10 anos, mas, no entanto, a infra-estrutura ainda precisa ser aprimorada: “Deve-se melhorar as condições de vida dos moradores em termos de esgotamento sanitário; as estradas, que dificultam o trânsito dos visitantes; e os locais de visitação, que carecem de organização e recursos para gestão.” Além disso, ainda foi mencionado o aeroporto, que não tem uma política eficiente de funcionamento, permanecendo fechado a maior parte do tempo. Tudo isso, de acordo com o dono da agência, por desarmonia entre as políticas públicas e a ineficiência no tratamento dos problemas.
O plano de manejo do parque está em sua fase final de elaboração, o que Samuel acredita ser um fator importante na fiscalização das atividades turísticas. O engenheiro participou ativamente na elaboração do plano, sugerindo perspectivas e meios de gestão que possam garantir o futuro da unidade.
“Atualmente, os poucos recursos do IBAMA não permitem cobrir um parque de 1.520 km². Os atores ligados ao ecoturismo procuram atuar da forma mais adequada, mas é claro que há alguns escorregões. O setor privado é muitas vezes mais atualizado e ativo que o setor público.”

10 comentários:

  1. Eu já visitei Bonito!! Nossa, é muito lindo mesmo! E tem cada passeio! Adorei a matéria!

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  2. Matéria excelente!!!!
    Aposto que se seu professor fosse o André Trigueiro você ganharia nota 100!
    hahahahaha
    beijos,
    Cris

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  3. Nossa, que matéria cabeça!
    Eu daria 100 mesmo sem ser o André Trigueiro! rss
    Fiquei com vontade de ir a Bonito e procurar essa empresa...
    beijo,
    Camilinha

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  4. Muito boa a matéria...e as fotos também!!!!
    Parabéns!!!!
    Bonito é maravilhosos mesmo...já fui....
    Monique

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  5. hola
    bueno texto
    a mi me gusta mucho Bonito
    soy de Argentina, pero siempre voy a Brasil

    besos,
    Carmen

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  6. Vou confessar que fiquei com inveja, tô indo pro Sana mês que vem, partiu?? hahaha

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  7. Adorei!!! Tb quero partir feroz p lá! rs
    Arrasouuuu!!!

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  8. Eu adoroo essas coisas...
    Curto de montãoO!!!
    Qndo tiver..avisA! =)

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  9. Eu tinha lido "turismo cooperativo"...
    Como neste momento é de madrugada e eu acordo já já, só olhei as figuras. Franca.

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